Vivendo em tempos de Covid-19

Se eu acordar amanhã espero que o mundo esteja curado.
Espero poder abraçar os que amo sem medo de os adoecer.
Espero poder ver o pôr do sol na praia, sair para o café com os amigos e poder estar junto deles sem que isso seja um perigo.
Achamos sempre que temos tempo, achamos sempre que pode ser amanhã. Mas e quando nos tiram esse amanhã? E quando o amanhã já não é como o deixámos ontem?
Desde pequenina que os meus pais me criaram o hábito do beijinho de boa noite. Já devo imensos beijinhos à minha mãe e não sei quando os vou poder pagar.
Todos os dias sinto que tudo não passa de um pesadelo. Mas percebo que a realidade, que parece ficção, existe e não vai passar tão rápido.
Tenho família, tenho amigos que todos os dias arriscam a sua vida pelo próximo. O medo a eles não os demove, não pode demover. Todos os dias eles são o exemplo da pessoa que quero ser quando o mundo se curar. E a única coisa que posso fazer por eles é o que me pedem, é ficar em casa. Não posso de modo algum estar a subcarregar ainda mais, pessoas humanas como eu que trabalham diariamente com poderes de super-heróis. Acredito que sintam o mesmo medo que todos nós, mais ainda mais por poderem contaminar os que amam, por não terem meios para salvar toda a gente, mas sobretudo pela ingratidão a que têm de assistir diariamente. Eles só pediram para ficarmos em casa.

Se eu acordar amanhã espero que o mundo esteja pintado a muitas cores.
Quero ver as ruas cheias de gente, os parques com crianças, as escolas cheias de todas as idades. Quero ver futuro e esperança nos olhos de todos. Quero ligar a TV e ver alegria e sonhos.
As saudades parece que me vão rebentar com o peito. Nunca a palavra saudade teve tanto peso dentro de mim. Vejo os meus amigos pelo telemóvel mas tenho saudades do olhar deles. Ouço-os em desabafos e esperanças de um mundo curado. Rimos muito uns com os outros mas tenho saudades das gargalhadas vibrantes, daquelas que contagiam. A minha mente é invadida por boas memórias muitas delas guardadas na parte mais garantida do cérebro. Vêm como um filme no cinema, todas seguidas e sem separador. Como se fossem todas uma história só. A minha história.

Quando acordar amanhã ainda não vou ter o mundo que sonho hoje. As coisas ainda vão estar um caos. Os meus ainda vão estar a arriscar-se pelos outros, o mundo vai continuar parado e as cores ainda vão ser cinzentas. Tudo vai estar ainda como não quero. Mas quando um dia acordar deste pesadelo vou saber o valor que cada vida tem. Vou valorizar ainda mais cada abraço, cada sorriso, cada olhar. Vou aproveitar ainda mais os que amo com tudo o que tenho. Vou saber o real significado da palavra liberdade. Vou sair sem medo e com fé de que num futuro próximo todas as cores voltem ao mundo.

Telma de Oliveira

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Setembro o mês Vida

VIDA

Alma gêmea